sábado, 24 de outubro de 2009

A idade dos Porquês

"(...)Tenho nove anos, professor,
e há tanto mistério à minha volta
que eu queria desvendar...
Por que é que o céu é azul?
Por que marulha o mar?
Tantos porquês que eu queria saber
e tu, tu não me queres responder!

Tu falas, falas, professor,
daquilo que te interessa
e que a mim não interessa...
Tu obrigas-me a ouvir,
quando eu quero falar,
obrigas-me a dizer,
quando eu quero escutar,
se eu estou a descobrir,
fazes-me decorar...

E a luta, professor,
a luta em vez do amor...

Mas, enquanto tua voz zangada ralha,
tu sabes, professor,
eu fecho-me por dentro,
faço uma cara resignada,
e finjo, finjo
que não penso em nada...

Mas penso!
Penso em como era engraçada
aquela rã que esta manhã ouvi coaxar
que graça tinha
aquela andorinha, que no céu eu vi passar!

E quando tu vens, depois, definir
o que são preposições e conjunções
quando me fazes repetir
que o coração tem dois ventrículos
e duas aurículas...
e tantas, tantas mais definições,
o meu coração,
o meu coração que não sei como é feito
e nem quero saber, cresce,
cresce dentro do peito
a querer saltar para fora,
professor,
a ver se assim compreenderias
e me farias mais belos os dias."

Cecilia Meireles

1 comentário:

Unknown disse...

Já conhecia, e recordei... é bonito... e verdadeiro... mas é também verdade que vimos mais tarde a perceber a necessidade de algumas aprendizagens que fizemos antes e as quais não valorizámos... pelo menos a mim acontece-me... (mas claro que teriamos aprendido melhor se o tivessemos, em muitas ocasiões, feito com mais prazer)
Beijinhos, Rita